Sogra morta é que faz festa boa!

Posted by Cronicas de Bebado on 13:24 in , , , , , , ,



Hoje atropelei minha sogra. Ela estava tentando pegar uma moeda em baixo do meu fusca, quando sai cantando pneu pra cima da véia. O funeral foi uma alegria, todos cantando e bebendo o defunto.
Tudo aconteceu numa manhã de sexta-feira. Havia tempo que não rolava uma festa boa na comunidade. Dois dias antes, meu parceiro Vudú teve uma grande idéia: “Porque não matar a tua sogra e assim justificamos encher a cara?” Concordei sem pestanejar. Há tempos não agüentava mais aquela velha enchendo meu saco e falando o tempo todo o quanto eu era incompetente.
Comecei a me preparar psicologicamente na quinta, planejando como seria o ocorrido. Pensei em combustão espontânea ou em envenenar o purê de batata, que era a única coisa que aquela desgraçada podia comer, mas nada me agradou. Pensei então no trivial: um atropelamento em alta velocidade na minha garagem. Uma coisa corriqueira, extremamente comum de acontecer.
Na mesma noite dividi o pessoal em três equipes: Equipe Bovino em Brasa, cuidaria da carne; Equipe Carcará Encharcado, cuidaria das bebidas; Equipe Tatu Mocozado, iria se encarregar dos tramites do enterro (Achar uma cova, abrir o buraco, limpar o corpo e convidar a rapaziada com antecedência, para ninguém reclamar que foi chamado de ultima hora, ou que já tinha outro enterro pra ir). Eu, como o Grande Chefe Raposa Ladina, fiquei com a parte mais difícil: Proporcionar a naja esclerosada o fim mais devagar e doloroso possível.
Chegou o grande dia e todos já estavam ansiosos. Inclusive, o Uóchitu Kleitu, meu colega da igreja, já estava carneando o boi de 45 arrobas, patrocinado pelo Centro de Umbanda do Marcinho, e recepcionando a banda de pagode, que chegou mais cedo pra passar o som. Zezinho, menino que vi crescer, ficou encarregado de por a cerveja pra gelar. De repente, nos deparamos com uma coisa que não tínhamos pensado antes: e o carvão? Não deu outra, pedi pro meu tio, um bêbado conhecido da região, para invadir a casa da velha e providenciar umas cadeiras para fazer lenha para a fogueira, já que depois de morta, não teriam utilidade nenhuma mesmo.
A invasão foi produtiva. Seis cadeiras, uma mesa, uma estante, a TV anos 70 (Que era de madeira pura nas caixas) dois criado-mudos e um banquinho que a infeliz usava para sentar quando tomava banho. Falta de lenha não seria problema.
Iniciamos a operação Lontra Morta. Não seria difícil fazer com que ela me seguisse até a porta da garagem, já que esse era o esporte preferido da jararaca pela manha: Gritar a todos os pulmões que eu era incompetente e que minha esposa fez um péssimo negócio em casar comigo, ao invés do Asdrúbal da oficina de bicicleta. Além do que, ela já ficaria por lá para futricar a vida alheia e fazer fofocas com as velhas do curso de tricô e crochê.
Matei a velha violentamente. Passei 16 vezes por trecho em cima do corpo, para ter certeza que o serviço estava bem feito. Joguei a defunta no banco do carona, pus o cinto nela, pois não queria estragar o perecível e dei uma volta na comunidade buzinando e acenando para os transeuntes. A criançada não tardou em correr atrás do carro. Quando eu parava nas esquinas todas as pessoas vinham cumprimentar pelo serviço de qualidade que eu havia prestado a humanidade.
Chegamos ao churrasco e quando descemos do carro a banda de pagode começou a cantar – “Parabéns pra você, nessa data querida, muitas felicidades...” em ritmo de pagode. Quando a banda parou de tocar aquela música bonita, o silencio imperou, todos esperavam por um longo e emocionante discurso. O ato falou por mim, levantei a velha o mais alto que pude e mostrei a população como se fosse um troféu. A comunidade enlouqueceu, todos aplaudiam efusivamente, de pé e outros choravam emocionados, de alegria. Colocamos a velha sentada em um banquinho improvisado com tijolos e foi uma farra ver o povo todo dançando em volta da defunta e uns ainda tiravam a velha para dançar, mesmo com a grande quantidade de sangue que se esvaía pelo chão. E a festa rolou noite adentro: mais pagode, mais bebida, mais churrasco e a alegria comendo solta.
Veio gente de tudo quanto era bairro vizinho, inclusive o pessoal do morro do Coco Oco, que não perdiam uma festa, aqueles danados. Varava a madrugada e quando achávamos que a festa acabaria por falta de cerveja, o povo começou a se mexer e fizeram uma vaquinha, que arrecadou 943,22 reais para comprar mais cerveja, afinal, diziam as pessoas, não é sempre que se tem um acontecimento desses, que justifica uma festa tão eletrizante. Depois de seis horas ininterruptas de pagode, que a banda fez questão de tocar de graça, eles estavam acabados, queriam aproveitar a festa também, olhei pra eles de relance e falei: “Aproveitem, a festa é de vocês”. Na mesma hora um DJ conhecido na região já montou as pick up’s e fez questão de tocar o mundialmente famoso funk “Um morto muito louco”. E novamente a festa incendiou com a dancinha coreografada da música em questão. O sol já estava raiando, e ninguém queria ir embora, o dia amanheceu com um sorriso diferente no rosto das pessoas, o Sol brilhava mais, o céu era mais azul e os pássaros cantavam felizes. E assim seguiu pela semana adentro, a comunidade estava mais unida, mais tranqüila e mais educada, parecíamos todos uma grande família.
Foi chegando o final de semana e as coisas começaram a voltar ao normal. Aquele brilho nas pessoas já estava se apagando e a violência voltou a comer solta na favela. Precisávamos fazer algo. Tinha chegado à quinta feira e ninguém tinha morrido ainda, ou se oferecido para tal.
Meu grande amigo Vudú apareceu lá em casa para tomar um martelinho de catuaba e teve novamente uma grande idéia: E que tal se matássemos teu sogro?

FIM... Até a próximo vitima.

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