Um Acreano em Milão

Posted by Cronicas de Bebado on 17:16 in , , ,

A história de um maquiador em busca da felicidade com sua orientação Heterossexual.









Gostava quando ela botava aquele baby-doll chumbo e me enchia de chocolate com catuaba. Era o ponto alto do meu dia, onde eu me sentia parte de um mundo real, longe da minha vidinha de maquiador me fingindo de homossexual.
Tudo começou naquele verão de 1972, estava eu ouvindo Kiss à sombra de uma árvore, quando meu pai me chamou e disse: Vagabundo, vai trabalhar, essa vida de ouvir Rock não vai te levar a lugar nenhum. Aquilo penetrou profundamente em minha mente, o que eu faria da minha vida, pensava eu. Não sabia fazer absolutamente nada, a não ser imitar as maquiagens do Kiss. Tentei trabalhar como estivador, ajudante de pedreiro, açougueiro, motorista de caminhão, mas em nada me sai bem. O que me confortava era a noite, quando chegava em casa e pegava a maquiagem de mamãe e imitava o rosto do Gene Simmons, baixista e líder da Banda Kiss. Era o ápice do meu dia.
Um belo dia, depois de mais uma tentativa frustrada de embrenhar em um novo emprego, como Leão de Chácara da Semi-Zona da Dona Regina, Cafetina conhecida da Região e mãe de políticos famosos, cheguei em casa, me maquiei e fiquei fingindo que tocava guitarra imaginária, quando passou pela janela da minha casa, um grupo musical que estava buscando o sucesso. Na hora, tentei me esconder, para não passar ridículo, mas o líder do grupo, que vestia uma roupa chamativa e rebolava mais do que a Carla Perez no tempo do Gerasamba, pendurou-se na soleira e começou a cantar: “Vira, vira, vira homem, vira, vira, vira, vira, vira lobisomem”. A dança daquele semi-homem me hipnotizou. Vislumbrei naquele momento o que seria meu futuro. Não, não pensava em ser Gay. Isso seria conseqüência de um trabalho bem feito. A maquiagem deles era tosca e eu, como Artista Maquiatório, mestre na arte da maquilagem, precisava ajudar esses pobres rapazes alegres. Me ofereci para guia-los ao caminho da fama.
Na mesma hora, furtei a maleta de maquiagem de minha mãe, pulei a janela e fugi com eles. Com minha arte complexa e suas musicas coloridas, seriamos uma dupla de sucesso. Mudamos o nome da banda para “Áridos e Encharcados”. Com certeza, em breve, seriamos o grande nome do cancioneiro nacional, desbancando grandes artistas como: Roberto Carlos, Raul Seixas, Toni Tornado, Tim Maia, Vanderléia e nosso grande concorrente; Ney Matogrosso.
Saímos em turnê pelo estado do Acre, fazíamos o maior sucesso, mas como nem tudo são flores no mundo de um Rockstar, a banda acabou. Estava novamente desempregado. Voltei a morar com meus pais, com uma diferença, eles não acreditavam mais em mim, continuavam achando-me um vagabundo, que não queria saber de estudar e que ainda furtou a maleta de maquiagem da mãe, para ser um travesti no interior.
A situação estava caótica em casa, precisava fazer alguma coisa, não agüentava mais meu pai me chamando de gay assumido. Minha arte estava sendo desperdiçada, tinha uma “Ferrari” em casa, porém não tinha “estrada” para eu rodar.
Para minha felicidade, um belo dia, um agenciador de modelos apareceu na cidade e fez um concurso para descobrir a próxima Miss Acre. Estava ali minha chance de voltar ao estrelato. Chamei minha vizinha, uma mistura do Zé Ramalho com o Pedro de Lara. Inclusive ela tinha mesma barba rala do Pedro de Lara.
Inscrevi-a no concurso e passei 12 dias maquiando-a. Era minha chance e não podia desperdiçar. Ficamos trancados no meu quartinho de 2x2, num calor de 38 graus.
No dia do concurso, liberei minha obra prima. Todos ficaram boquiabertos com o que eu consegui fazer. Minha vizinha ficou um pitéu. Todos queriam conhecer quem era o Cirurgião Plástico que conseguiu aquela proeza. Estava no céu.
Em um mês fui chamado para participar de todos os concursos de Miss do Brasil. Fui o responsável por fazer com que as concorrentes, mocréias sem tamanho, virassem as mais belas musas do país. Só tinha um problema, todos achavam que eu era gay. Como nessa profissão temos que nadar conforme a maré, resolvi me assumir perante todos, com um diferencial: eu era heterossexual.
Em pouco tempo, em virtude do meu sucesso, choveram convites para viajar o mundo demonstrando minha arte. Não sou um mero maquiador, sou um artista facial. Conhecedor de todas as técnicas Facialisticas, que por acaso, eu sou o criador. As universidades de cosmetologia não existiriam sem mim. Aceitei. Fui pra Milão.
Chegando lá, fui recepcionado pelos maiores Gays maquialisticos do mundo. Estava mais ou menos em casa, tirando a língua e minha orientação sexual. Na primeira noite me levaram a uma festa de Go-Go-Boys. Quase vomitei quando um negão pegou minha mão e pôs em seu mastro rijo. Não podia declarar que eu não era gay e fiquei ali, por uns 45 minutos, com cara de janela, segurando e chacoalhando o imenso instrumento do Afro-Descendente Italiano. Corri pro banheiro, querendo lavar minhas mãos melecadas com o que tivesse de mais acido possível, mas não encontrei nada alem de sabonete liquido e vários bichinhas se atracando. Fui embora.
Minha temporada em Milão foi caótica. Na rua eu era uma bicha desvairada e o melhor maquiador do mundo. À noite no meu quarto eu era um homem triste pela minha condição. Estava a 4 anos sem pegar ninguém e a masturbação já não dava mais conta do recado. Precisava fazer alguma coisa, ou me assumia literalmente ou largava essa vida. Mas o pior é que eu gostava do glamour.
Resolvi minha situação, quando, uma das modelos que eu maquiava encostou acidentalmente em meu peru e o mesmo iniciou uma corrida sanguínea até o local do toque. Não tinha mais como esconder e confessei a ela meu martírio. Nesse momento chorei e ela chorou comigo. Demonstrando-se solidária, ela despiu-se e me agarrou, me estuprando no chão frio daquele inverno rigoroso que fazia em Milão. Me senti deliciosamente usado, mas satisfeitíssimo. Daquele dia em diante, ela começou a me estuprar 12 vezes ao dia. Estava tudo indo bem, já que na frente dos outros, eu permanecia afeminado e me jogando pra cima de tudo quanto é homem, mas com ela, podia ser eu mesmo. Transávamos loucamente ouvindo Kiss, nossa banda preferida. Estava tudo ótimo e minha vidinha dupla seguia tranquilamente.
Depois de 2 anos de nosso relacionamento escondido, as coisas começaram a desandar. Ela já não se preocupa tanto com a aparência devido à depressão que ela desenvolveu por gostar de mim e não pode demonstrar isso em publico. Em pouco tempo ela desenvolveu um fraco por docinhos de padaria e pão com manteiga de garrafa, banha e açúcar. Seu rosto cobriu de espinha e sua pança passou de 60cm para 120cm, isso com o espartilho. Ela perdeu todos os seus contratos, seu apartamento e teve que morar comigo. Sem problemas, conseguiria nos manter por um bom tempo, até que ela se recuperasse e voltasse a ganhar rios de dinheiro como a principal contratada da Victória Secret´s.
Porém, mais uma vez, como nem tudo são Flores na vida de um Rockstar, o salário foi ficando curto para a vida glamourosa que levávamos e o preço dos docinho e banha de porco na Itália eram caríssimos. Tivemos que voltar ao Brasil.
Como ninguém me conhecia aqui, poderia me assumir heterossexual e continuar com minha rechonchuda menina. Voltei para o Acre. Estava disposto a recomeçar do Zero. Infelizmente a situação estava difícil por aqui também e voltei a morar com meus pais, em meu quartinho 2x2.
Tentei trabalhar em dezenas de salão de beleza conhecidos na região, mas ninguém queria dar emprego para um macho de verdade. Só a funerária “Vá com Deus” me aceitou, querendo que eu maquiasse os defuntos para que eles parecessem um pouco mais vistosos no velório. O Salário era de 480 reais e fui demitido em uma semana. Maquiei o vigário da paróquia como se fosse uma prostituta barata de rua, foi minha ruína.
Atualmente trabalho na grande rede de circos Garcia, como maquiador de palhaços e moro com meus pais e minha roliça menina. Meu Pai continua dizendo que eu sou um Vagabundo que não gosto de trabalhar, travesti no interior e que ainda por cima, sou casado com uma gorda.

Na crônica de hoje vimos à história de um homem com seus sonhos, que apesar de ser muito engraçada é a triste sina dos profissionais da maquilagem heterossexual mundial. Quando você se deparar com um profissional desse, não o julgue por sua orientação e sim pelo seu profissionalismo em transformar verdadeiras coisas do capeta em musas do verão e nos dar a alegria das tardes de domingo nos programas de baixa qualidade da televisão Brasileira.

FIM

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